Com 7 milhões de estudantes universitários e cerca de 740.000
estagiários, o Brasil forma apenas 38% dos estudantes que fazem um
curso superior, segundo estimativas da Associação Brasileira de
Estágio. Esse número desanimador pode explicar a carência de
profissionais qualificados que o mercado de trabalho registra já há
alguns anos, um problema que só tem se agravado. Segundo Luciana
Tegon, sócia-diretora da Tegon Consultoria, empresa especializada em
recrutamento e seleção, as empresas podem ter parte da culpa nesse
deficit de qualificação profissional:
“O estagiário é visto, muitas vezes, como mão de obra barata, um
faz-tudo ou um quebra-galhos. Em muitas empresas, o jovem não atua
em sua área de estudos, o que inibe a formação de profissionais
qualificados e pode explicar o elevado índice de abandono da
faculdade”, explica Luciana.
Autora do vídeo “Estagiário não é mão de obra barata”, com
grande repercussão nas redes sociais, Luciana narra o caso de uma
jovem estagiária, estudante de comunicação, contratada para cuidar
das redes sociais de uma empresa, que passou a ser utilizada em
serviços financeiros e foi advertida quando não conseguiu executar
a tarefa a contento da chefia:
“Os empregadores precisam ter em mente que o jovem talento, o
estagiário, é uma pessoa que chega à empresa para ser treinada em
sua área de formação. O estágio é, antes de tudo, uma atividade
educacional complementar, que vai ser desenvolvida na empresa, com a
supervisão da faculdade. Se a empresa coloca o estudante em uma
atividade que nada tem a ver com seu estudo, não está ajudando a
formar o profissional, o que tem impactos negativos no
desenvolvimento da pessoa e na qualificação de talentos”, explica
Luciana, que é também a responsável pelo Blog do Headhunter, que
dá dicas aos profissionais que buscam colocação no mercado de
trabalho.
Embora a Lei de Estágio, sancionada em 2008 pelo Congresso Nacional,
estabeleça que as empresas podem ser responsabilizados caso utilizem
estagiários em atividades não relacionadas aos seus estudos,
trata-se de algo difícil de fiscalizar. Segundo Eduardo
de Oliveira, Superintendente Educacional do Centro de Integração
Empresa-Escola (CIEE), entidade responsável pela colocação no
mercado de mais de 200.000 estagiários todos os anos, o estágio é
um ato educacional e, por essa razão, as atividades têm que ser
correlacionadas com aquilo que o estagiário está estudando.
“Levar
o estagiário a conhecer todas as atividades da empresa é um ato
saudável e ajuda na formação do profissional, que conhece assim
tudo o que envolve a atividade da organização. No entanto, após
esse período de integração, o estagiário precisa atuar em sua
área de formação, uma atividade crucial para qualificá-lo como
futuro profissional”, assinala Oliveira.
Para
a Associação Brasileira de Estágio, o fato de um estudante
universitário poder atuar em uma empresa ainda em sua fase de
formação é saudável e pode contribuir para reduzir o índice de
jovens que abandonam o ensino superior sem concluí-lo. Já de acordo
com o CIEE, programas como o Aprendiz
Legal,
que inserem estudantes do ensino médio no mercado de trabalho, podem
ajudar a definir melhor o que o jovem quer estudar na faculdade,
evitando assim a evasão no ensino superior.
Veja mais sobre o assunto na playlist abaixo, com entrevistas com Eduardo de Oliveira, superintendente educacional do CIEE (Centro de Integração Empresa - Escola)
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